Deus criou homem e mulher a sua imagem e semelhança. A eles Deus atribuiu o mesmo valor e a mesma dignidade e concedeu a missão comum de frutificarem e se multiplicarem, de encherem a terra e sujeitarem-na; e de dominarem sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra.
Deus abençoou homem e mulher para esse propósito e entregou a eles toda a erva que dá semente; toda a árvore, em que há fruto que dá semente; todo animal da terra e toda ave dos céus; e todo réptil da terra e toda a erva verde, para lhes servirem de mantimento (Gênesis 1:26-30).
No sentido de cumprirem sua missão, ao homem e à mulher Deus atribuiu características biológicas distintas e papéis sociais complementares (Gênesis 2:18). Deus criou a mulher para ajudar (em hebraico, ezer) o homem de forma a complementar (em hebraico, neged) a imagem do verdadeiro ezer, o próprio Deus1 (Gênesis 2:8). Até a queda do homem e da mulher pelo pecado, essa relação perfeita de complementariedade, estabelecida por Deus, existia. A queda, porém, influenciou toda a condição humana, inclusive o sexo biológico e a relação e o papel social do homem e da mulher. A relação equilibrada e complementar entre homem e mulher cedeu espaço para relações moldadas pela cultura de cada local e em cada contexto histórico.
No último século, o Ocidente assistiu ao surgimento e à propagação de ondas do chamado “movimento feminista ou feminismo”. Em sua primeira onda, o movimento lutou por direitos políticos iguais entre homens e mulheres, notadamente, pela garantia do direito ao voto para a mulher. O direito ao voto foi conquistado (Código Eleitoral de 1932), e a pauta do movimento ampliou-se para a luta pela “igualdade” entre os sexos no campo da educação, da política, dos direitos civis, do acesso ao trabalho e na esfera da família em relação às atividades domésticas. Buscava-se superar, naquele momento (décadas de 1970 e 1980), o dualismo posto pela visão sexista de relação entre homem e mulher, com a promoção de acesso da mulher em todas as esferas da vida e a resistência ao “patriarcado” (o controle dos homens sobre a identidade e a posição das mulheres), ao “domínio do homem sobre a mulher”. O ápice dessa luta ocorreu em 1975, declarado Ano Internacional da Mulher, no qual o divórcio foi legalizado no Brasil.
A segunda onda do feminismo foi seguida por movimentos voltados para uma agenda interseccional pautada nas lutas anti-sexistas, anti-racistas, anti-capitalistas, anti-homofóbicas, decolonialistas e ecofeministas. Ecoou, nos países ocidentais, a luta por direitos sexuais e reprodutivos – nesse bojo, pela legalização do aborto provocado – e pela identidade de gênero. Pós 1990, o feminismo ganhou traços mais claros de uma ideologia, de uma forma de pensar, baseada em um conjunto de ideias em relação à identidade e à posição da mulher na sociedade.
No espectro ideológico, o feminismo encontra-se no pólo oposto ao sexismo. O feminismo prega a necessidade de se superar o “patriarcado” e de se romper as imposições masculinas acerca do que é socialmente entendido como “feminino”. O dito “feminino”, isto é, alguns modos específicos de comportamento, bem como algumas expressões de identidade via corpo, seria utilizado enquanto estratégia para a dominação patriarcal das mulheres, enquanto ferramenta de manutenção das mulheres em posições sociais inferiores às dos homens.
Sob essa ótica, o comportamento feminino, entendido como uma construção social não-natural, deve ser desconstruído, de modo a libertar as mulheres da sujeição ao modelo patriarcal de sociedade. Nesse sentido, feministas defendem a autonomia completa das mulheres e se ocupam de expor machismos, desconstruir misoginias2 e direcionar duras críticas e ataques ao comportamento feminino da mulher “bela, recatada e do lar”.
Nessa tentativa, o feminismo tem solapado a relação entre homem e mulher e provocado rupturas em relacionamentos e quebras de vínculos familiares. Cresce o número de famílias chefiadas por mulheres no Brasil a cada ano, além da taxa de divórcio e de separação entre homens e mulheres.
Assim como o sexismo, o feminismo menospreza o que homem e mulher podem e devem fazer juntos, enquanto portadores da imagem de Deus, cada um com suas características e seu igual valor e dignidade diante do Criador. Ademais, o feminismo impede uma relação equilibrada e complementar de homem e mulher, que possibilita que a humanidade usufrute da boa, perfeita e agradável vontade de Deus, experimentada por Adão e Eva antes da queda.
Jesus Cristo, ao vir ao mundo, ofereceu (e oferece hoje) a esperança de reconciliação entre os sexos. Homem e mulher podem juntos cumprir sua missão de frutificar, se multiplicar, encher a terra e sujeitá-la, e assim refletir integralmente a imagem de Deus nesta terra (ezer). Mas para isso, é necessário compreender que homem e mulher são iguais, mas diferentes, e, como tais, complementam-se enquanto imagem de Deus e no cumprimento de sua missão cultural nesta terra.
Notas:
1 Deus é chamado de ezer em Deuteronômico 33:29 e em mais 15 referências no Antigo Testamento.
2 Misoginia é o ódio, desprezo ou repulsa ao sexo feminino e às características a ele associadas.