Jesus declarou: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja e as portas do inferno não poderão permanecer contra ela” (Mt 16.18). Deus nos deu a missão de formar nações com base na cultura do Reino (Mt. 5: 17-19; 28: 19-20). “Edificarei” marca o avanço do reino e do plano de Cristo. A igreja está na ofensiva, junto a Cristo que está reconciliando consigo todas as coisas. É por isso que a igreja deve ter a mentalidade vitoriosa de avançar contra o reino da escuridão. Ela deve ser proativa, atacando as portas do inferno, não desprendida ou remota.
A igreja em sua essência não é um edifício, mas uma comunidade encarnada. Ela é descrita como o corpo de Cristo, a noiva, uma nação santa e sacerdotal. A igreja é essa comunidade diversa composta por membros únicos com uma variedade de dons e talentos. Ela vive e anseia pelo Reino de Deus. O Reino de Deus é, ao mesmo tempo, presente e futuro. O cristão vive na expectativa do retorno do seu Salvador e, ao mesmo tempo, manifesta a presença e os princípios do reino nesse mundo, agora. A igreja, portanto, deve ser tanto separada, santificada, quanto engajada e ativa, conquistando o mundo para Cristo. Jesus deixa isso claro em João 17:15-19:
Não rogo que os tires do mundo, mas que os protejas do Maligno. Eles não são do mundo, como eu também não sou. Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade. Assim como me enviaste ao mundo, eu os enviei ao mundo. Em favor deles eu me santifico, para que também eles sejam santificados pela verdade.
A igreja está no mundo, mas não é do mundo. A igreja está sempre se reformando e buscando transformar a sociedade. Somos uma comunidade que precisa apresentar para o mundo o caráter de Deus, sua beleza e seus princípios. Não conseguiremos tal proposito se nos fecharmos e nos escondermos em nossos lindos templos.
Quando cumprimos nossa missão com êxito, o conteúdo das leis e das políticas públicas da nossa Nação refletem os valores, princípios e ideias do Reino de Deus. Além disso, o contexto socioeconômico e político é caracterizado por alegria, paz e justiça, assim como é o Reino de Deus (Rm. 14: 17).
Infelizmente, a configuração atual do Brasil pouco e cada vez menos se assemelha à do Reino. Temos assistido à propagação de uma cultura ateísta, que questiona e busca anular a influência da fé cristã nas diversas esferas da sociedade. Nunca antes testemunhamos tantas iniciativas, no âmbito do Poder Executivo, Legislativo e Judiciário, bem como pela mídia, que não só atentam diretamente contra a vida, a família natural e o casamento, a identidade e a sexualidade natural dos indivíduos e o desenvolvimento natural das crianças e adolescentes, como fazem apologia ao aborto, a “famílias diversas”, ao casamento homossexual, à identidade de gênero, à homossexualidade, às drogas, enfim, a uma falsa liberdade cujo principal objetivo é promover um outro modelo social libertino, em substituição ao modelo judaico-cristão predominante.
Somado a isso, somos um país com expressiva desigualdade social, infraestrutura precária em muitos municípios, pobreza e miséria ainda significativas, alto indíce de criminalidade e de insegurança e corrupção estrutural. Somos um país, portanto, onde falta alegria, paz e justiça, isto é, os atributos do Reino de Deus.
Tudo isso não seria tão preocupante e considerado um sério problema se o Brasil não fosse o segundo país mais cristão do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos1! Nós, enquanto Igreja de Cristo, temos falhado no cumprimento de nossa missão em nossa Nação. Onde foi que erramos?
Deus concedeu uma dupla missão para a Igreja: alcançar cada criatura da terra pela pregação das Boas Novas e discipular as Nações (Mt. 28: 18-20). A tarefa quantitativa, alcançar todos os indivíduos pelo Evangelho, tem sido executada exitosamente há, pelo menos, um século. Em 2015, segundo pesquisa do Pew Research Center, os cristãos representavam 31% da população da terra e o Cristianismo consistia na religião predominante no mundo2.
Junto à tarefa quantitativa, recebemos uma tarefa qualitativa: discipular as Nações. A Igreja primitiva entendeu e exerceu essa dupla missão: suas reuniões de oração e de ensino da Palavra eram realizadas em locais públicos e se referiam aos diversos temas da vida cotidiana. O objetivo era disseminar a cultura do Reino e influenciar a sociedade na qual ela estava inserida. Os resultados dessa investida vieram séculos depois: o sistema jurídico romano foi moldado segundo as leis mosaicas de justiça, a Inglaterra estabeleceu um arranjo político próximo ao da República Hebraica, cujo ordenamento jurídico era baseado nos Dez Mandamentos, escolas, universidades e hospitais foram criados para atender à população em geral, os Estados Unidos da América se constituiu como uma Nação essencialmente cristã.
Poucos séculos depois, parece que a tarefa de discipular as Nações foi esquecida por parte expressiva da Igreja Cristã. Ao focar e reduzir o Evangelho somente à salvação, deixou-se de ensinar e aplicar as verdades bíblicas que caracterizam a cultura do Reino de Deus nas diferentes áreas da sociedade, isto é, na educação, na economia, na mídia e nas artes, na ciência e na política (governo civil). Como decorrência, perdemos a revelação de Deus como Grande Mestre: o Senhor da Educação, Jeová Jirê: o Senhor da Economia, Palavra Viva: o Senhor da comunicação, Deus Criador: o Senhor da Ciência, e Rei dos Reis: o Senhor da Justiça. Enquanto Igreja, urge reassumirmos e exercermos nossa missão de discipular o Brasil, se queremos verdadeiramente viver em uma Nação transformada pela cultura do Reino de Deus, que se caracteriza por alegria, paz e justiça.
Como Miller (2012) ensina, o cristão é chamado para ser a igreja espalhada, levando o reino para o mundo, em todos os domínios da sociedade, enquanto inteiramente consagrados, com uma mente bíblica, com uma estética bíblica e com uma ética bíblica. Ela deve ser um farol no mundo e não uma fortaleza contra o mundo.
Notas:
1 Dados obtidos em relatório do instituto de pesquisa do Pew Research Center. Reportagem disponível em https://noticias.gospelmais.com.br/brasil-maior-pais-cristao-mundo-eua-81014.html. Dados disponíveis em http://www.globalreligiousfutures.org/.
2 Dados disponíveis em http://www.pewresearch.org/fact-tank/2017/04/05/christians-remain-worlds-largest-religious-group-but-they-are-declining-in-europe/.