Como seres feitos à imagem e semelhança de Deus, temos em nosso DNA características inerentes às do nosso Criador. Em Gn 2:15, Deus deu a Adão uma missão: lavrar e guardar o jardim do Éden. Isto é, Adão deveria, por meio de seu trabalho, tornar a terra produtiva. Este é o primeiro princípio acerca do trabalho: o homem foi feito para produzir. No novo testamento, essa verdade é expressa também na parábola do Dez Talentos (Lc 19.11-24). O texto nos mostra que devemos fazer florescer os talentos colocados em nossas mãos. Assim, aquele que recebeu dez talentos multiplicou-os por dez, o que recebeu cinco, por cinco. Porém, aquele que enterrou o seu talento por medo de perdê-lo foi condenado pelo seu senhor.
Nesse sentido, Deus nos concede ferramentas para que possamos suprimir nossas necessidades e fazer multiplicar aquilo que nos foi dado. Uma vez que somos capazes de multiplicar, somos também capazes de guardar. Este é o segundo princípio. A história de José (Gn 41) é um exemplo dessa verdade. Ele administrou os recursos da terra egípcia para que o povo tivesse alimento no período das “vacas magras”, ou seja, no período de escassez. A atitude de José permitiu que o Egito pudesse não apenas abastecer o seu povo, mas também alimentar outras nações da terra. Quando o homem poupa, ele é capaz de ter para si e para os outros. Em Isaias 58, Deus fala ao povo de Israel para repartir o pão com o faminto, cobrir o nu e recolher em sua casa os abandonados.
Um modelo econômico justo e próspero requer, portanto, o combate à pobreza. Um sistema econômico sólido depende da capacitação e crescimento de todas as camadas da população, inclusive, as menos favorecidas economicamente. O povo de Israel foi ensinado a esse respeito desde o início (Dt 15). Deus ordenou que não houvesse nenhum pobre no meio deles, pois Ele mesmo os abençoaria ricamente. A pobreza seria eliminada pela oportunidade, não pelo assistencialismo. A todos deveriam ser proporcionadas as condições necessárias para adquirir conhecimento, desenvolver habilidades e livremente trabalhar, produzir riqueza e se autossustentar.
Para o cumprimento dessas verdades, o princípio do autogoverno é indispensável. O homem deve trabalhar duro, sendo ele observado por seu chefe ou não. Já o Estado deve propiciar espaço para que o cidadão crie, inove, em vez de incentivá-lo a sempre depender de políticas assistencialistas que não geram desenvolvimento. O Estado deve fomentar o empreendedorismo e não dificultá-lo como ocorre no país.
Nesse sentido, a corrupção deve ser forte e sistematicamente combatida. Corrupção gera pobreza, gera injustiça, impede a prosperidade (IISm 22.26; Jo 1, Sl 37.37, 125.4; Pv 13.6). Só é possível ter e desfrutar da liberdade de empreender, produzir, distribuir, consumir e possuir em um contexto em que cidadãos não roubam empresários, trabalhadores não roubam patrões, patrões não roubam o governo civil e o governo civil não rouba seus cidadãos.
Uma economia sólida requer necessariamente uma cosmovisão cristã. Nela o dinheiro não é fim de todas as coisas, mas tão somente um instrumento para fazer florescer os dons e talentos dados por Deus. Os negócios não são criados apenas para obtenção do lucro, mas para trazer resposta aos mais diversos problemas enfrentados pela sociedade. O lucro justo é a colheita desse trabalho.
É possível ter um Brasil justo e próspero se compreendermos que Deus nos chamou para criar, guardar e repartir. Como afirmou John Wesley, “ganhe tudo que puder! Salve tudo que puder! Dê tudo que puder!”.